segunda-feira, 23 de setembro de 2013

DEUS E O TEMPO EM SANTO AGOSTINHO

DEUS E O TEMPO EM SANTO AGOSTINHO
Por Edivaldo Vieira Barros


RESUMO

O objetivo do presente estudo tende a apontar como a obra agostiniana Confissões, no Livro XI, quer esclarecer Deus e o tempo com explicações psicológicas e buscando acima de tudo, elucidar tais problemas na obra do Bispo de Hipona. O que é pretendido aqui é explanar a teoria de como Deus a partir do nada faz a sua criação. Para tanto, este Deus bom, contempla a sua criação diz o livro do Gênese e “vê que tudo é bom”. Deseja-se, ainda, aclarar como o tempo nasce no pensamento de Agostinho, buscando compreender o que o autor quer nos falar com a ideia de tempo como distensão da alma.

Palavras-chaves: Deus, Tempo, Alma, Distensão.


RESUMEN

El objetivo de este estudio tiende a mostrar cómo la obra de Agustín Confesiones, libro XI, ya sea en aclarar tiempo con Dios y la búsqueda de explicaciones psicológicas y sobre todo, para dilucidar este tipo de problemas por el obispo de Hipona. Lo que se pretende aquí es explicar la teoría de cómo Dios hace nada desde el principio. Por lo tanto, este Dios bueno, contempla su creación, dice el libro del Génesis y "ver que todo está bien." Queremos aclarar también cómo el tiempo se levanta en el pensamiento de Agustín. Tratamos de entender lo que el autor nos quiere decir con la idea del tiempo como distensión del alma.

Palabras clave: Dios, el tiempo, distensión.

  
INTRODUÇÃO

O presente estudo tem a finalidade de expor as ideias sobre a temática abordada por Santo Agostinho no Livro XI, das suas Confissões, esse é intitulado como “o homem e o tempo”, no qual o filósofo enfatiza a ideia do nascimento do tempo numa visão psicológica. O referido estudo se reporta a obra supracitada e também alguns comentadores, como Étienne Gilson e Hans Joachim o qual a caracteriza como uma das mais geniais do pensamento agostiniano.
Assim, para melhor abranger a ideia central da obra agostiniana segue-se querendo entender como Deus cria o mundo e do mesmo modo o Tempo. Partindo deste questionamento como problemática o seguinte estudo tem como objetivo compreender a criação do mundo e em que momento nasce o tempo no entendimento de Agostinho.
Pretende-se mostrar que só existe tempo na alma humana, no seu intelecto, nas suas lembranças ou memória. Nisso compreende-se que o tempo só pode nascer neste mundo espiritual. Esclarece ainda, que não tem possibilidade de haver tempo sem antes ter criado o mundo. E só nos é entendido o tempo a partir da distensão da alma.


DEUS E O TEMPO EM SANTO AGOSTINHO
  
Aurelius Augustinus é um dos grandes intelectuais e autores da história da filosofia Medieval ocupando seu espaço de destaque, conhecido por todos como Santo Agostinho. Escreveu vários tratados filosóficos-teológicos sobre várias questões como a Existência de Deus, Sobre a Importância da Alma, Sobre o Livre Arbítrio, as Confissões e outros. Trataremos neste trabalho do Livro XI das Confissões de Santo Agostinho, onde é abordado como tema “o homem e o tempo”, o filósofo descreve ao longo da obra a possibilidade de se chegar a uma consideração de tempo e eternidade.
É compreensível o fato de que Deus cria o mundo do nada a partir de sua vontade, nisso há aqui uma diferença entre a criatura e o Criador. É o que expõe Costa nos seus escritos acerca da era patrística: “fica expresso em sua obra da forma mais nítida na relação da eternidade de Deus com a simples temporalidade de toda a criação” (Hans p.192, 2008).
É uma obra psicológica, e é justamente o que nos importa neste trabalho, pois estes conceitos estão na alma humana, o tempo está em nossa consciência. O tempo é uma abstração do intelecto, portanto, é o que diz o Agostinho quando é indagado a discorrer o que de fato é o tempo.

“Que é, pois, o tempo? [...] Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. Porém, atrevo-me a declarar, sem receio de contestação, que, se nada sobreviesse, não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse não existiria o tempo presente”. (Confissões Liv XI p.322, 2004)

É perceptível como Aurélio trava uma luta com a linguagem, para expressar os seus pensamentos acerca da temporalidade e da eternidade, a partir da existência de Deus e da criação. Dentro desta dinâmica ele desenvolve uma cadeia de argumentações dentro desse pensamento para melhor ser compreendido.

  
1 – Deus

Para o filósofo, “Deus está em toda eternidade [...] tudo se diz simultânea e eternamente. Se assim não fosse já haveria tempo e mudança, e não a verdadeira eternidade e verdadeira imortalidade” (Idem p.316). Nisso ele quer dizer que as coisas para Deus são sempre presentes, não pode haver passado nem futuro.  Portanto, não existe distância entre dizer e realizar, “e tudo o que dizeis que se faça realiza-se!” (Idem p.317), pois se houvesse extensão possuiria tempo, com isso Deus não seria eterno.
O tempo nasce para o Bispo, no momento em que Deus cria por sua livre vontade, assim criou “o céu e a terra”, é assim que Agostinho resume todas as criaturas. O que vem “antes” (ressalto que “antes” é um advérbio de tempo) disso não tem valor nenhum é o que Aurélio diz com respeito o que é anterior ao tempo. À vontade esta em Deus e por essa vontade Ele cria tudo.
Com o surgimento das criaturas nasce o Verbo de Deus feito homem, que já existia antes por toda a eternidade, nesse momento o Verbo passa pelo seu domínio temporal (destaco que o Verbo é eterno). “O vosso Verbo é este Principio de todas as coisas porque também nos fala”, (Idem p.317). Estes termos que ora mencionados são palavras que nos lembra o evangelho de João, onde diz que o Verbo sempre existiu já desde toda a eternidade:

 “No princípio era o Verbo (a Palavra de Deus) e o Verbo estava com Deus (o Criador) e o Verbo era Deus. No princípio, Ele (o Verbo) estava com Deus. Tudo foi feito por meio Dele (do Verbo) e sem Ele nada foi feito de tudo o que existe. Nele estava a Vida e a Vida era a Luz dos homens e a Luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam.” (João cap. 1, vers. 1ss).

Mas vem ao mundo para provar desta temporalidade terrena. Se colocando como criatura no meio das outras criaturas.
Deus permanece sempre o mesmo diante de todas as coisas, se Ele mudasse, se os anos fizessem diferença, como fazem em nós, Ele já não seria mais eterno. Pois a eternidade não carece de tempo, ela simplesmente é, não existindo passado nem futuro. “Como poderiam ter passado inumeráveis séculos, se Vós, que sois o Autor e Criador de todos os séculos, ainda os não tínheis criado?” (Liv XI p. 321). É possível notar que anterior a criação, durante e depois dela a eternidade é sempre um hoje, um presente e um agora. Deste modo o hoje de Deus, diz Santo Agostinho, não se afasta do amanhã e nem sucede ao ontem, ele sempre é.


2 – Tempo

Partindo do pressuposto de que para que haja tempo seja necessário que tenha passado, presente e futuro, e que tenha uma criação, o filósofo medieval diz que o tempo só pode ser mensurado pela alma.
O tempo presente em Agostinho é um espaço que não é possível ser medido, pois o decorrido é passado e o que vem é futuro. Como é dado o exemplo dos cem anos e estes anos são divididos e no final ele nos diz que o tempo presente é aquele instante que já não é capaz de ser subdividido. Por isso, o tempo está unido à memória (lembrança), à atenção (agora) e à espera (esperança). Acreditamos que existe uma continuidade na alma do homem, onde é capaz de mensurar o tempo como presente do passado, presente do presente e presente do futuro.
            O tempo não pode ser chamado longo ou breve, pois não pode-se dizer que é longo ou breve aquilo que não existe, deste modo, o passado já não existe e o futuro ainda não existe, diz teólogo "o passado já não existia; portanto não podia ser longo aquilo que totalmente deixara de existir" (Idem p.323). O medieval diz que não devemos dizer "é longo" mais sim, “foi” ou “será longo”. Continua a dizer que deve-se falar que ele (tempo) é longo quando ainda não tenha passado para o não-ser. Contudo, parece-nos que é a partir da sensibilidade que se mede tempo, é através desta que se pode comparar e consequentemente medir.
            Como dissemos anteriormente tudo que existe esta no presente, mas a memória é quem lembra e relata o que se recorda. Não o fato em si, mas os resquícios dos fatos, "gravaram no espírito uma espécie de vestígios" (Idem p.326). Quando queremos evocar algum fato passado nos remetemos à memória. Assim, a resposta a tantos questionamentos que o Bispo de Hipona faz ao longo da sua obra está justamente no que ele vai chamar de distensão da alma, uma extensão que está no intelecto humano um passado e um futuro que esta muito próximo do presente, como se fosse uma foto panorâmica. Esse fato faz com que o individuo passa medir com a alma aquilo que ele viveu, retornando ao tempo, com a memória, Étiene Gilson diz que assim as medidas são possíveis.

"O que deixou de ser em si, continua a existir na lembrança que guardamos disso; a impressão que as coisas transitórias deixam em nós sobrevive a essas coisas mesmas e ao nos permitir compará-las, torna possível para nós uma certa medida dos intervalos delas" (Étienne p.367, 2007).

            Essa, portanto é a ideia central do que o Doutor da Igreja coloca em sua obra. Onde só é possível mensurar o tempo através do psicológico. O tempo é a duração de alguma coisa, o passado, pensa-se, o presente vive-se e o futuro mensura-se.


CONCLUSÃO

Pretendeu-se neste estudo explicar de forma muito abreviada, Deus como ser eterno que cria o “o céu e a terra” e consequentemente, o tempo que também é sua criatura. Sendo assim, fica evidenciado que o mundo é criado a partir da vontade de Deus e que a eternidade sempre existe, portanto, se ela tivesse um começo não podia ser eterna. Faz-se notar, portanto, que o tempo precisa de passado e futuro para que de fato exista, pois se assim não houvesse não poderia ser chamado de tempo, mas de eternidade.
Deseja-se, ainda, mostrar quão é notável a presença de um Deus bom que cria e aprecia sua obra. Por conseguinte, o tempo é também uma criatura e por assim dizer, um vestígio de eternidade.
  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AS CONFISSÕES / Santo Agostinho; tradução de J. Oliveira Santos, S.J., e A. Ambrósio de Pina, S.J. – Nova Cultura. São Paulo: Editora Nova Cultura Ltda, 2004.

GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho; tradução de Cristiane Negreiro Abbud Ayoub – 2. Ed. São Paulo. Editora Paulus, 2010.

STÖRIG, Hans Joachim. História Geral da Filosofia / A filosofia medieval; tradução de Antônio Luz Costa – revisão geral de Edgar Orth. Petropólis, RJ: Editora Vozes, 2008

CAMILO, David. A Concepção de tempo em Santo Agostinho. Disponível em < http://www.webartigos.com/artigos/a-concepcao-de-tempo-em-agostinho/8524/>. Acesso em 04 de mar de 2013.

VAZ, Aline Tabosa. A Visão de Santo Agostinho sobre o Tempo. Disponível em < http://filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Agostinho_Tempo.pdf>. Acesso em 04 de mar de 2013.

OLIVEIRA, Ranis Fonseca de. Santo Agostinho e Sua Reflexão Sobre o Tempo. Disponível em <http://grupopapeando.wordpress.com/2012/04/10/santo-agostinho-e-sua-reflexao-sobre-o-tempo/>. Acesso em 04 de mar de 2013.


BÍBLIA SAGRADA. Tradução dos originais gregos, hebraico e aramaico, mediante a versão dos Monges Beneditinos de Maredsous. Revisada – Edição Claretiana – 2001. Editora Ave Maria.

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