segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A Identidade pessoal no Tratado da Natureza Humana / Hume

A Identidade pessoal no Tratado da Natureza Humana / Hume
Edivaldo Vieira Barros

Hume refuta inteiramente as noções correntes de identidade pessoal dada pelos filósofos de seu tempo, sobretudo aquelas fundamentadas em conceitos metafísicos abstrusos e forçados, afirmando-as incoerentes e até contraditórias.
Em seguida ele demonstra que tal idéia não pode ter qualquer fundamento legítimo, e para fazer essa negação utiliza-se dos dois princípios fundamentais de todo o seu Tratado: princípio da cópia – toda idéia provém de uma percepção e não há nada em nossa mente que não tenha essa origem; princípio da separação – toda idéia simples pode ser distinguível e separável de qualquer outra, não necessitando de qualquer conexão para existir.       
De acordo com o princípio da cópia, a idéia de um eu constante e ininterrupto necessitaria igualmente de uma percepção de mesma natureza que a originaria, e tal impressão, seguramente não existe. Atribuir identidade em seu sentido mais trivial a um ser que não cessa de mudanças nos leva invariavelmente a uma contradição.
A noção de uma unidade inquestionável de nosso eu apenas identifica o algo ao qual nossas diversas impressões e idéias se remetem, sem que esse tenha sua existência “real” garantida. Mas colocando na discussão o princípio da separação, essa idéia perde ainda mais seu caráter  necessário. Se todas as percepções particulares de fato são separáveis e distinguíveis entre si, restando delas em essência apenas sua existência isolada, qual a função de um eu que opere essa conexão, ou ainda mais, que se conecte a todas essas percepções? É simplesmente a constante sucessão de percepções em nossa mente que compõe a nossa existência, sendo as idéias de identidade,  eu ou substância uma mera ficção. Tudo não passa de percepções sucessivas, idéias que se formam a partir de impressões e que podem ser reduzidas em idéias simples que por sua vez são
distinguíveis e separáveis entre si, não necessitando de qualquer estrutura a priori, e não se relacionando efetivamente com qualquer evento a não ser segundo nossa tendência natural de aproximar percepções semelhantes, contíguas, ou percepções cujo hábito nos faz imaginá-las conectadas necessariamente (causa e efeito). Hume exemplifica isso lembrando que nos momentos em que tal sucessão deixa de ocorrer, como na morte ou no sono profundo, deixamos de existir (ainda que momentaneamente no caso do sono).
Sobre as condições pelas quais se realiza o fluxo constante de percepções em nossa mente nada podemos afirmar, bem como não podemos ter qualquer idéia de uma existência externa a nós ou além de nossa imaginação. Não havendo nos objetos qualquer conexão além daquela imposta pela nossa mente, não somos capazes de determinar qualquer ordem necessária em que devem aparecer, sendo que o palco do mundo apenas nos pode ser dado imediatamente, nunca de maneira antecipada.
Mas se Hume estiver certo e de fato a idéia de identidade não passar de uma ilusão criada pela mente, deve haver um motivo forte e determinante para tal criação, visto que essa se dá entre todos os homens, anunciando a existência de uma substância tanto para a identidade pessoal como para os demais objetos do mundo. Tanto os filósofos como os leigos adquirem essa ficção, seja no contato imediato com o mundo, seja através da investigação  deliberada sobre algo que possa unir as diversas percepções dando unidade aos diferentes objetos. O autor se dá conta dessa questão e propõe uma explicação para esse fenômeno que parece querer anular a descontinuidade percebida pelos nossos sentidos criando em nossas mentes um mundo fantasioso de substâncias e seres com existência ininterrupta. Ele ainda diferencia a identidade pessoal enquanto relativa às paixões e interesse em si mesmo (não analisada neste trabalho) e enquanto diz respeito ao pensamento e imaginação. 
Nessa parte positiva da explicação, Hume nos lembra dois conceitos fundamentais para prosseguirmos no texto: identidade e diversidade. Esses conceitos não são úteis se entendidos em seu sentido mais trivial, considerando os antônimos, em que não podem existir simultaneamente em um objeto. Dizer que uma coisa é igual a ela mesma e diferente das outras não nos leva a lugar algum. Mas sempre que utilizamos tais termos em nossos discursos, eles estão mutuamente relacionados, remetendo-se um ao outro e nunca existindo separadamente. O autor afirma que a diversidade presente na idéia de Identidade é uma suposta variação no tempo. Quando fixamos um objeto e não percebemos alteração de nenhuma espécie em sua estrutura, e ainda julgamos que houve uma variação no tempo (como se esta se desse de outra forma que não através da mudança nos objetos), então atribuímos uma Identidade a este objeto. Por outro lado, a identidade presente na idéia de Diversidade consiste numa estreita relação entre os objetos, que faz com que estes sejam percebidos de maneira “quase igual” por nossa mente. Partindo dessas definições, encontraremos o fundamento para a confusão de nossa mente que nos leva a atribuir Identidade no lugar de Diversidade. Não ocorre que raciocinamos (pelo menos a princípio) buscando saltar das percepções diversas para uma idéia de identidade nos seres, mas simplesmente essa relação estreita entre os objetos faz com que nossa mente os sinta da mesma maneira que sente objetos percebidos invariáveis devido à suposta variação no tempo.
Sendo assim, um erro inerente a nossa natureza, ainda que procuremos propositadamente enxergar a realidade do eterno fluxo em nossa mente, não conseguiremos, e logo seremos forçados a nos iludir novamente e criar fantasias sobre a identidade dos objetos. Acabamos então por  ceder ao determinismo da Identidade. 
Mas se uma simples tentativa de perceber a realidade nos confirma a diversidade das coisas, ainda que temporariamente,  como conviver com esse paradoxo entre sentir a diversidade e imaginar a identidade? Aqui está a origem de todas as formulações a respeito de substância, constância e identidade. Não suportamos muito bem conviver com isso, e então Hume identifica (mas não explica) três processos que nos levam a noções, sofisticadas ou não, de substância e identidade. O primeiro caso é o da reflexão deliberada, geralmente obra de filósofos, que busca fugir do paradoxo criando indevidamente tais conceitos para que possamos tranqüilamente conviver com essa tendência da mente em perceber identidade no lugar de diversidade. O segundo caso está no ambiente leigo, que não reflete deliberadamente sobre o assunto, mas a própria mente gera uma propensão a atribuir algo de inexplicável que permita enxergarmos a identidade de maneira a não enfrentarmos o paradoxo. E por último, quando nada disso ocorre, ainda confundimos a identidade com a diversidade, embora faltem as evidências em favor daquela.       
A partir de então, Hume busca provar que no fluxo incessante de percepções que nos chega a cada instante, apenas atribuímos identidade àqueles objetos compostos por partes conectadas pelas nossas relações mentais de semelhança, contigüidade ou causalidade, que são justamente as relações mentais responsáveis pela conexão que geralmente se julga existir entre os objetos no suposto mundo externo. A identidade nada mais é que a tendência da mente em aproximar objetos fortemente relacionados, e essa tendência já foi definida pelo autor como simplesmente uma força que busca aproximar em nossa imaginação as idéias simples mais adequadas para a formação de idéias complexas. Essa força não é de modo algum invencível ou absolutamente
necessária, ainda que seja a responsável pela semelhança com que os “...diversos povos organizam seus pensamentos e estruturam seus idiomas” (p. 34). 
Mas, em alguma medida, essas relações são também  as responsáveis pela noção de diversidade, pois são elas que fazem a conexão (relação estreita) entre os diferentes objetos. A idéia de Identidade  é novamente afirmada como sendo um mero erro devido às semelhantes formas da  mente em perceber a diversidade e aquilo que supomos ser a identidade.  O próximo passo argumentativo seria provar essa sucessão constante dos objetos que imaginamos serem idênticos. 
Hume expõe motivos que ultrapassam a possibilidade de um mero erro de linguagem na origem de todo esse problema filosófico. Ao criarmos uma espécie de ficção acerca das percepções sucessivas tornando-as um todo idêntico, atribuímos significado real ao que não passa de uma confusão do nosso entendimento. O símbolo vai além do simbolizado e é esse algo a mais que necessita ser identificado a fim de solucionarmos o problema. 
Se a Identidade é uma “propriedade perceptiva” da natureza humana, entender como objeto idêntico as percepções de objetos intimamente relacionados pela mente é uma conseqüência necessária. Mas se tudo que pode ser captado pelo homem são percepções sucessivas e não há efetivamente qualquer relação entre os objetos no mundo, podemos dizer antecipadamente que não pode haver seres idênticos, ou seja, não se faz necessário que busquemos exemplos, positivos ou negativos, que nos remetam à conclusão da inexistência de uma Identidade. Quaisquer impressões que nos cheguem aos sentidos poderão de antemão ser entendidas como diversas, visto que não há nenhum fundamento teórico (no sistema humeano) para uni-las efetivamente formando uma identidade. A semelhança entre a percepção de objetos estreitamente relacionados e a percepção de um objeto idêntico em uma suposta variação de tempo é a associação de idéias responsável pelo equívoco do nosso entendimento quando imaginamos identidade, e é demonstrando esse equívoco que poderá ser comprovado o erro no conceito de identidade pessoal.
Hume apresenta diversos casos sucessivos em que atribuímos identidade sem que haja um critério objetivo para isso. Parte da análise de casos de matéria inanimada, primeiramente sem a noção de estrutura e finalidade, depois analisa a identidade nesses casos para então chegar às plantas e animais.
Na análise de uma massa de matéria, argumenta que a adição ou a retirada de uma pequena parte não faz com que se perca a noção de identidade, e isso ocorre porque essa mudança é percebida de maneira suave por nossa mente. O problema é que se podemos mexer dessa forma na estrutura de um corpo sem, contudo, alterar sua identidade, qual deve ser o critério empregado para essa? Se uma mudança na própria essência do ser não é suficiente para sua dissolução, que fator objetivo poderá destruí-lo? Ocorre ainda que se a alteração fosse um pouco mais brusca, ainda que a quantidade de matéria retirada ou acrescida pouco variasse, teríamos uma destruição da identidade. Esses fenômenos, segundo Hume, são suficientes para nos demonstrar que tal critério para determinarmos  identidade repousa numa medida totalmente subjetiva e determinada pela nossa mente, pouco importando o que de fato ocorre com o objeto real. Assim, caso ocorra uma alteração considerável, mas percebida de forma gradual pela mente, esta continuará a atribuir Identidade. Essa identidade é denominada pelo autor como imperfeita, e só diz respeito ao progresso ininterrupto de nosso pensamento, visto que a permanência deste é suficiente para preservá-la. Desse modo, subjetiva, arbitrária e imperfeita, não é possível que a Identidade tenha lugar num sistema filosófico.
A Identidade também pode ser mantida por nossa mente ao longo de alterações sucessivas, caso possamos relacionar as  partes umas às outras, de modo que permaneça um fim comum para o objeto. Este “artifício” permitirá uma “transição fácil do pensamento”.
Mais um passo e Hume explica como se dá a formação da Identidade para plantas e animais, seres que se modificam durante toda a vida sem que deixemos de atribuir-lhes uma forte idéia de identidade. Basta acrescentar ao caso anterior, uma simpatia entre as partes causada por relações de causa e efeito, causando uma mútua relação entre as mesmas, o que facilitará ainda mais a transição do pensamento.  
De maneira semelhante se forma a Identidade Pessoal, mas Hume propõe outro argumento: a Identidade, seja lá o que for, não pode destruir o Princípio da
Separação, sendo que ela apenas vincula nossas diferentes percepções na mente. A identidade não passa de uma qualidade formada pela imaginação devido ao fluxo constante de nossas percepções. As relações imaginárias de semelhança, contigüidade e causalidade acabam por produzir a idéia de Identidade, ao propiciarem o progresso ininterrupto do pensamento. Como não há nada no mundo que mantenha uma conexão real entre os objetos senão as nossas relações mentais de semelhança, contigüidade e causalidade, não são outras as fontes da noção de existência sucessiva e invariável que temos de uma pessoa. Porém nesse caso a contigüidade não terá grande influência, e Hume analisa como a semelhança e a causalidade contribuem para tal noção.
No caso da semelhança, podemos concluir que a memória, ao trazer à nossa mente as imagens de percepções passadas, porém semelhantes à percepção atual de um mesmo objeto, nos fortalece a idéia de invariabilidade e continuidade no tempo. “Quanto à causalidade, podemos observar que a verdadeira idéia de uma mente humana é a de um sistema de diferentes percepções ou diferentes existências, encadeadas pela relação de causa e efeito,...(p. 293)” de modo que estas relações estão em constante troca e movimento, sem alterar a identidade, assim como em uma cidade as relações de seus habitantes entre si e suas migrações não alteram a essência do lugar.
Hume atribui à memória o fato de concebermos continuidade e extensão nessa sucessão de percepções e, conseqüentemente a memória é a responsável pela formação das relações de causa e efeito. Assim, finalmente, é essa faculdade da mente humana que nos revela (mas não produz por  si mesma) aquilo que denominamos eu ou pessoa.
O autor considera por fim que as discussões acerca da identidade pessoal têm um caráter antes gramatical que filosófico, pois diferenças quantitativas num objeto são suficientes para alterar a Identidade filosófica, ou seja, rigorosamente falando podemos perceber que a mais leve alteração  em um corpo deveria ser capaz de lhe tornar diferente; mas no plano verbal há um construto qualitativo que norteia tal noção, pois só sinalizamos uma mudança quando deixa de haver uma transição fácil das percepções em nossa mente. O critério para se atribuir Identidade a um objeto qualquer é inteiramente subjetivo.  

TRABALHO E INTERAÇÃO EM HABERMAS

Resumo: TRABALHO E INTERAÇÃO EM HABERMAS
 Por Edivaldo Vieira Barros

Neste capítulo, Habermas descreve sobre o trabalho e interação baseado na filosofia do espírito desenvolvida por Hegel nos anos de 1804 a 1806 em Iena, nessa filosofia, é possível encontrar traços de uma ruptura no pensamento do jovem e velho Hegel. Na filosofia do espírito, Hegel designa três módulos das relações dialéticas (decorrentes das categorias linguagem, instrumento e família): a representação simbólica, o processo do trabalho e a interação.
Segundo Habermas, ao contrário do que se pode supor (que o espírito se manifesta através da linguagem, do trabalho e da relação ética), o conceito de espírito surge da relação dialética de simbolização linguística, de trabalho e de interação. Para ele, “só quando tomados conjuntamente, é que os três modelos dialéticos de consciência existente tornam o espírito transparente na sua estrutura” .
Considera que a visão de Hegel ultrapassa a relação da reflexão solitária, privilegiando uma relação complementar dos indivíduos que se conhecem. A experiência da auto-reflexão, nesse contexto, não seria mais originária: seria o resultado da interação onde o Eu aprendo a ver-me com os olhos do outro sujeito. Explica que “a consciência de mim mesmo deriva de um entrelaçamento das perspectivas. Só com base no reconhecimento recíproco se forma a autoconsciência, que se deve fixar no reflexo de mim mesmo na consciência de um outro sujeito”. Por conta disso, Hegel só poderia encontrar a origem do Eu na teoria do espírito.  Dessa forma, compreende que, na perspectiva hegeliana, o espírito não seria o fundamento que se extrai da subjetividade do si mesmo na autoconsciência, mas “o meio em que um Eu comunica com outro Eu e a partir do qual, como de uma mediação absoluta, se constituem ambos reciprocamente como sujeitos”.
Prossegue o autor, afirmando que o Eu como autoconsciência seria universal, pois ele deriva da abstração de todos os conteúdos que são dados para um sujeito cognoscente. Justifica esse caráter universal do Eu como autoconsciência, alegando que, por meio dessa categoria, considera-se como individuo qualquer sujeito possível. Por outro lado, dentro da mesma categoria, seria possível pensar em cada caso um sujeito determinado, que se afirmaria como algo único e individual. “A identidade do Eu refere-se, pois, não só àquela unidade abstrata da autoconsciência em geral, mas ao mesmo tempo à categoria da particularidade”.
Por isso, no meio dessa universalidade (denominada de universal concreto), os particulares podem identificar-se uns com os outros e preservar-se, da mesma forma, como não idênticos uns em relação aos outros. Habermas conclui que “o Eu só se pode conceber como autoconsciência se for espírito, isto é, se passar da subjetividade para a objetividade de um universal no qual, com base na reciprocidade, os sujeitos, que se sabem a si mesmos, se unificam como não idênticos”.

Na Teoria da Ação Comunicativa Habermas coloca a linguagem como foco principal, pois a linguagem é o que difere o ser humano dos demais animais, essa obra é critica pelos marxistas. Marx está voltado nas suas obras para a práxis, a execução do trabalho. A interpretação do trabalho em Marx é a mesma que esta na fenomologia de Hegel. O Capitalismo moderno predomina na ação instrumental onde afirma Habernas: " O capitalismo oferece uma legitimação de dominação que não desce mais do que o céu da tradição cultural mas pode ser estabelecida sobre a base do trabalho social".

DEUS E O TEMPO EM SANTO AGOSTINHO

DEUS E O TEMPO EM SANTO AGOSTINHO
Por Edivaldo Vieira Barros


RESUMO

O objetivo do presente estudo tende a apontar como a obra agostiniana Confissões, no Livro XI, quer esclarecer Deus e o tempo com explicações psicológicas e buscando acima de tudo, elucidar tais problemas na obra do Bispo de Hipona. O que é pretendido aqui é explanar a teoria de como Deus a partir do nada faz a sua criação. Para tanto, este Deus bom, contempla a sua criação diz o livro do Gênese e “vê que tudo é bom”. Deseja-se, ainda, aclarar como o tempo nasce no pensamento de Agostinho, buscando compreender o que o autor quer nos falar com a ideia de tempo como distensão da alma.

Palavras-chaves: Deus, Tempo, Alma, Distensão.


RESUMEN

El objetivo de este estudio tiende a mostrar cómo la obra de Agustín Confesiones, libro XI, ya sea en aclarar tiempo con Dios y la búsqueda de explicaciones psicológicas y sobre todo, para dilucidar este tipo de problemas por el obispo de Hipona. Lo que se pretende aquí es explicar la teoría de cómo Dios hace nada desde el principio. Por lo tanto, este Dios bueno, contempla su creación, dice el libro del Génesis y "ver que todo está bien." Queremos aclarar también cómo el tiempo se levanta en el pensamiento de Agustín. Tratamos de entender lo que el autor nos quiere decir con la idea del tiempo como distensión del alma.

Palabras clave: Dios, el tiempo, distensión.

  
INTRODUÇÃO

O presente estudo tem a finalidade de expor as ideias sobre a temática abordada por Santo Agostinho no Livro XI, das suas Confissões, esse é intitulado como “o homem e o tempo”, no qual o filósofo enfatiza a ideia do nascimento do tempo numa visão psicológica. O referido estudo se reporta a obra supracitada e também alguns comentadores, como Étienne Gilson e Hans Joachim o qual a caracteriza como uma das mais geniais do pensamento agostiniano.
Assim, para melhor abranger a ideia central da obra agostiniana segue-se querendo entender como Deus cria o mundo e do mesmo modo o Tempo. Partindo deste questionamento como problemática o seguinte estudo tem como objetivo compreender a criação do mundo e em que momento nasce o tempo no entendimento de Agostinho.
Pretende-se mostrar que só existe tempo na alma humana, no seu intelecto, nas suas lembranças ou memória. Nisso compreende-se que o tempo só pode nascer neste mundo espiritual. Esclarece ainda, que não tem possibilidade de haver tempo sem antes ter criado o mundo. E só nos é entendido o tempo a partir da distensão da alma.


DEUS E O TEMPO EM SANTO AGOSTINHO
  
Aurelius Augustinus é um dos grandes intelectuais e autores da história da filosofia Medieval ocupando seu espaço de destaque, conhecido por todos como Santo Agostinho. Escreveu vários tratados filosóficos-teológicos sobre várias questões como a Existência de Deus, Sobre a Importância da Alma, Sobre o Livre Arbítrio, as Confissões e outros. Trataremos neste trabalho do Livro XI das Confissões de Santo Agostinho, onde é abordado como tema “o homem e o tempo”, o filósofo descreve ao longo da obra a possibilidade de se chegar a uma consideração de tempo e eternidade.
É compreensível o fato de que Deus cria o mundo do nada a partir de sua vontade, nisso há aqui uma diferença entre a criatura e o Criador. É o que expõe Costa nos seus escritos acerca da era patrística: “fica expresso em sua obra da forma mais nítida na relação da eternidade de Deus com a simples temporalidade de toda a criação” (Hans p.192, 2008).
É uma obra psicológica, e é justamente o que nos importa neste trabalho, pois estes conceitos estão na alma humana, o tempo está em nossa consciência. O tempo é uma abstração do intelecto, portanto, é o que diz o Agostinho quando é indagado a discorrer o que de fato é o tempo.

“Que é, pois, o tempo? [...] Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. Porém, atrevo-me a declarar, sem receio de contestação, que, se nada sobreviesse, não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse não existiria o tempo presente”. (Confissões Liv XI p.322, 2004)

É perceptível como Aurélio trava uma luta com a linguagem, para expressar os seus pensamentos acerca da temporalidade e da eternidade, a partir da existência de Deus e da criação. Dentro desta dinâmica ele desenvolve uma cadeia de argumentações dentro desse pensamento para melhor ser compreendido.

  
1 – Deus

Para o filósofo, “Deus está em toda eternidade [...] tudo se diz simultânea e eternamente. Se assim não fosse já haveria tempo e mudança, e não a verdadeira eternidade e verdadeira imortalidade” (Idem p.316). Nisso ele quer dizer que as coisas para Deus são sempre presentes, não pode haver passado nem futuro.  Portanto, não existe distância entre dizer e realizar, “e tudo o que dizeis que se faça realiza-se!” (Idem p.317), pois se houvesse extensão possuiria tempo, com isso Deus não seria eterno.
O tempo nasce para o Bispo, no momento em que Deus cria por sua livre vontade, assim criou “o céu e a terra”, é assim que Agostinho resume todas as criaturas. O que vem “antes” (ressalto que “antes” é um advérbio de tempo) disso não tem valor nenhum é o que Aurélio diz com respeito o que é anterior ao tempo. À vontade esta em Deus e por essa vontade Ele cria tudo.
Com o surgimento das criaturas nasce o Verbo de Deus feito homem, que já existia antes por toda a eternidade, nesse momento o Verbo passa pelo seu domínio temporal (destaco que o Verbo é eterno). “O vosso Verbo é este Principio de todas as coisas porque também nos fala”, (Idem p.317). Estes termos que ora mencionados são palavras que nos lembra o evangelho de João, onde diz que o Verbo sempre existiu já desde toda a eternidade:

 “No princípio era o Verbo (a Palavra de Deus) e o Verbo estava com Deus (o Criador) e o Verbo era Deus. No princípio, Ele (o Verbo) estava com Deus. Tudo foi feito por meio Dele (do Verbo) e sem Ele nada foi feito de tudo o que existe. Nele estava a Vida e a Vida era a Luz dos homens e a Luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam.” (João cap. 1, vers. 1ss).

Mas vem ao mundo para provar desta temporalidade terrena. Se colocando como criatura no meio das outras criaturas.
Deus permanece sempre o mesmo diante de todas as coisas, se Ele mudasse, se os anos fizessem diferença, como fazem em nós, Ele já não seria mais eterno. Pois a eternidade não carece de tempo, ela simplesmente é, não existindo passado nem futuro. “Como poderiam ter passado inumeráveis séculos, se Vós, que sois o Autor e Criador de todos os séculos, ainda os não tínheis criado?” (Liv XI p. 321). É possível notar que anterior a criação, durante e depois dela a eternidade é sempre um hoje, um presente e um agora. Deste modo o hoje de Deus, diz Santo Agostinho, não se afasta do amanhã e nem sucede ao ontem, ele sempre é.


2 – Tempo

Partindo do pressuposto de que para que haja tempo seja necessário que tenha passado, presente e futuro, e que tenha uma criação, o filósofo medieval diz que o tempo só pode ser mensurado pela alma.
O tempo presente em Agostinho é um espaço que não é possível ser medido, pois o decorrido é passado e o que vem é futuro. Como é dado o exemplo dos cem anos e estes anos são divididos e no final ele nos diz que o tempo presente é aquele instante que já não é capaz de ser subdividido. Por isso, o tempo está unido à memória (lembrança), à atenção (agora) e à espera (esperança). Acreditamos que existe uma continuidade na alma do homem, onde é capaz de mensurar o tempo como presente do passado, presente do presente e presente do futuro.
            O tempo não pode ser chamado longo ou breve, pois não pode-se dizer que é longo ou breve aquilo que não existe, deste modo, o passado já não existe e o futuro ainda não existe, diz teólogo "o passado já não existia; portanto não podia ser longo aquilo que totalmente deixara de existir" (Idem p.323). O medieval diz que não devemos dizer "é longo" mais sim, “foi” ou “será longo”. Continua a dizer que deve-se falar que ele (tempo) é longo quando ainda não tenha passado para o não-ser. Contudo, parece-nos que é a partir da sensibilidade que se mede tempo, é através desta que se pode comparar e consequentemente medir.
            Como dissemos anteriormente tudo que existe esta no presente, mas a memória é quem lembra e relata o que se recorda. Não o fato em si, mas os resquícios dos fatos, "gravaram no espírito uma espécie de vestígios" (Idem p.326). Quando queremos evocar algum fato passado nos remetemos à memória. Assim, a resposta a tantos questionamentos que o Bispo de Hipona faz ao longo da sua obra está justamente no que ele vai chamar de distensão da alma, uma extensão que está no intelecto humano um passado e um futuro que esta muito próximo do presente, como se fosse uma foto panorâmica. Esse fato faz com que o individuo passa medir com a alma aquilo que ele viveu, retornando ao tempo, com a memória, Étiene Gilson diz que assim as medidas são possíveis.

"O que deixou de ser em si, continua a existir na lembrança que guardamos disso; a impressão que as coisas transitórias deixam em nós sobrevive a essas coisas mesmas e ao nos permitir compará-las, torna possível para nós uma certa medida dos intervalos delas" (Étienne p.367, 2007).

            Essa, portanto é a ideia central do que o Doutor da Igreja coloca em sua obra. Onde só é possível mensurar o tempo através do psicológico. O tempo é a duração de alguma coisa, o passado, pensa-se, o presente vive-se e o futuro mensura-se.


CONCLUSÃO

Pretendeu-se neste estudo explicar de forma muito abreviada, Deus como ser eterno que cria o “o céu e a terra” e consequentemente, o tempo que também é sua criatura. Sendo assim, fica evidenciado que o mundo é criado a partir da vontade de Deus e que a eternidade sempre existe, portanto, se ela tivesse um começo não podia ser eterna. Faz-se notar, portanto, que o tempo precisa de passado e futuro para que de fato exista, pois se assim não houvesse não poderia ser chamado de tempo, mas de eternidade.
Deseja-se, ainda, mostrar quão é notável a presença de um Deus bom que cria e aprecia sua obra. Por conseguinte, o tempo é também uma criatura e por assim dizer, um vestígio de eternidade.
  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AS CONFISSÕES / Santo Agostinho; tradução de J. Oliveira Santos, S.J., e A. Ambrósio de Pina, S.J. – Nova Cultura. São Paulo: Editora Nova Cultura Ltda, 2004.

GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho; tradução de Cristiane Negreiro Abbud Ayoub – 2. Ed. São Paulo. Editora Paulus, 2010.

STÖRIG, Hans Joachim. História Geral da Filosofia / A filosofia medieval; tradução de Antônio Luz Costa – revisão geral de Edgar Orth. Petropólis, RJ: Editora Vozes, 2008

CAMILO, David. A Concepção de tempo em Santo Agostinho. Disponível em < http://www.webartigos.com/artigos/a-concepcao-de-tempo-em-agostinho/8524/>. Acesso em 04 de mar de 2013.

VAZ, Aline Tabosa. A Visão de Santo Agostinho sobre o Tempo. Disponível em < http://filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Agostinho_Tempo.pdf>. Acesso em 04 de mar de 2013.

OLIVEIRA, Ranis Fonseca de. Santo Agostinho e Sua Reflexão Sobre o Tempo. Disponível em <http://grupopapeando.wordpress.com/2012/04/10/santo-agostinho-e-sua-reflexao-sobre-o-tempo/>. Acesso em 04 de mar de 2013.


BÍBLIA SAGRADA. Tradução dos originais gregos, hebraico e aramaico, mediante a versão dos Monges Beneditinos de Maredsous. Revisada – Edição Claretiana – 2001. Editora Ave Maria.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O Mito da Caverna

PLATÃO. O mito da caverna. Obra disponível para download no site Projeto Livros para todos em http://livrosparatodos.net/livros-downloads/o-mito-da- caverna.html acessado em 13/09/08.

O Mito da Caverna
Extraído de "A República" de Platão.  6° ed. Ed. Atena, 1956, p. 287-291

SÓCRATES – Figura-te agora o estado da natureza humana, em relação à ciência e à ignorância, sob a forma alegórica que passo a fazer. Imagina os homens encerrados em morada subterrânea e cavernosa que dá entrada livre à luz em toda extensão. Aí, desde a infância, têm os homens o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto. Atrás deles, a certa distância e altura, um fogo cuja luz os alumia; entre o fogo e os cativos imagina um caminho escarpado, ao longo do qual um pequeno muro parecido com os tabiques que os pelotiqueiros põem entre si e os espectadores para ocultar-lhes as molas dos bonecos maravilhosos que lhes exibem.
GLAUCO - Imagino tudo isso.
SÓCRATES - Supõe ainda homens que passam ao longo deste muro, com figuras e objetos que se elevam acima dele, figuras de homens e animais de toda a espécie, talhados em pedra ou madeira. Entre os que carregam tais objetos, uns se entretêm em conversa, outros guardam em silêncio.
GLAUCO - Similar quadro e não menos singulares cativos!
SÓCRATES - Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize-me: assim colocados, poderão ver de si mesmos e de seus companheiros algo mais que as sombras projetadas, à claridade do fogo, na parede que lhes fica fronteira?
GLAUCO - Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça durante toda a vida.
SÓCRATES - E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra coisa que não as sombras?
GLAUCO - Não.
SÓCRATES - Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te parece que, ao falar das sombras que vêem, lhes dariam os nomes que elas representam?
GLAUCO - Sem dúvida.
SÓRATES - E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras dos que passam, não julgariam certo que os sons fossem articulados pelas sombras dos objetos?
GLAUCO - Claro que sim.
SÓCR ATES - Em suma, não creriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das figuras que desfilaram.
GLAUCO - Necessariamente.
SÓCRATES - Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imaginemos um destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via.
Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados?
GLAUCO - Sem dúvida nenhuma.
SÓCRATES - Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as consideraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados?
GLAUCO - Certamente.
SÓCRATES - Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens tem por serem reais? GLAUCO - A princípio nada veria.
SÓCRATES - Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior. Primeiramente, só discerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia.
GLAUCO - Não há dúvida.
SÓCRATES - Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o próprio sol, primeiro refletido na água e nos outros objetos, depois visto em si mesmo e no seu próprio lugar, tal qual é.
GLAUCO - Fora de dúvida.
SÓCRATES - Refletindo depois sobre a natureza deste astro, compreenderia que é o que produz as estações e o ano, o que tudo governa no mundo visível e, de certo modo, a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna.
GLAUCO - É claro que gradu almente chegaria a todas ess as conclusões.
SÓCRATES - Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de escravidão e da idéia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao mesmo tempo a sorte dos que lá ficaram?
GLAUCO - Evidentemente.
SÓCRATES - Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais prontamente distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão dos que precediam, seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que falamos tivesse inveja dos que no cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil vezes, como o herói de Homero, levar a vida de um p obre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras ilusões e viver a vida que antes vivia?
GLAUCO - Não há dúvida de que suportaria toda a espécie de sofrimentos de preferência a viver da maneira antiga.
SÓCRATES - Atenção ainda para este ponto. Supõe que nosso homem volte ainda para a caverna e vá assentar-se em seu primitivo lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à obscuridade, não lhe ficariam os olhos como submersos em trevas?
GLAUCO - Certamente.
SÓCRATES - Se, enquanto tivesse a vista confusa -- porque bastante tempo se passaria antes que os o lhos se afizessem de novo à obscuridade -- tivesse ele de dar opinião sobre as sombras e a e ste respeito entrasse em discussão com os companheiros ainda presos em cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter subido à região superior, cegara, que não valer a a pena o esforço, e que assim, se alguém quisesse fazer com eles o mesmo e dar-lhes a liberdade, mereceria ser agarrado e morto?
GLAUCO - Por certo que o fariam.
SÓCRATES - Pois agora, meu caro GLAUCO, é só aplicar com toda a exatidão esta imagem da caverna a tudo o que antes havíamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o queres saber, é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro. Quanto à mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a idéia do bem, a qual só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se impõe à razão como causa universal de tudo o que é b elo e bom, cria dora da luz e do sol no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível, e sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos fixos para agir com sabedoria nos negócios particulares e públicos. 



Aula ministrada por Edivaldo Vieira

Meu repudio contra a violência em São José da Tapera.



ATO CONTRA VIOLÊNCIA... Fora assim pensado por alguns de nós que queremos o melhor para nossa cidade. O que me preocupa é que nas redes sociais as pessoas opinam, reclamam, choram, maltratam, contradizem, maldizem, e outras expressões que nos deixam pensado realmente o que fazer, e uma expressão em especial: "VAI COM DEUS", como se isso fosse resolver o problema da violência ou fosse fazer o defunto viver.
O problema não está em ‘chora pelo leite derramado’, como dizia um velho amigo, mas buscar medidas cabíveis que possam evitar tais derramamentos de sangue e lágrimas de tanta gente; mães, pais, irmãos, parentes e amigos. Um dos grandes problemas de nosso povo é pensar para o imediato, em curto prazo, sem que tenha um planejamento. E quando alguém com esse axioma se colocar em convocar, discutir, refletir, interagir, pensar, ponderar, raciocinar 'este' é menosprezado, maltratado e tido como discordante do sistema que esta vigente.
O fato não é tomar o poder ou querer protestar contra A ou B, mas querer melhorias e quem for responsável por tal pasta que busque desempenhar o seu papel. Porém, o povo deve ser esclarecido quem é o responsável por tal função, e a manifestação tem essa ação de ajudar aclarar esse tipo de dúvida, já que muitos não conhecem seus direitos e muito menos a quem recorrer quando eles lhes são negados.
Manifestar não é querer quebrar tudo, sair pelas praças maltratando os que estão no poder, contudo, é preciso saber o que fazer e como fazer para que ela não seja somente uma manifestação.
Não perco a esperança de ver ‘a minha cidade na PAZ’, onde as crianças possam sair de suas casas e juntas poderem brincar na pracinha, os jovens se divertirem ali no banco da praça sem está com medo de serem assaltados ou levarem um tiro perdido, onde as comadres possam conversar nas portas de suas casas sem que seja preciso fechar as portas para caçoarem da lida de cada dia.
E como teremos essa paz tão desejada? Educando nosso povo ensinando-os a serem cidadãos críticos e, sobretudo sendo capazes de compreender as diferenças e as respeitando.
Que pena que amanhã após os sepultamentos uma grande parte esquecerá a violência e voltará a postar no 7º dia nas suas contas do facebook “Já faz sete dias que partiu e nem se despediu” e isso será repetido no 30º dia e no aniversário de um ano de morte. Como se isso fosse medida preventiva ou solução para tais acontecimentos.
Enfim, quando o povo vai se conscientizar e dizer que já basta de tanta violência, de tantas mortes, de tantos roubos? Outra sociedade é possível, lutemos por ela.



Edivaldo Vieira Barros

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


A ORDENAÇÃO DO COSMOS E O TEMPO COMO IMAGEM MÓVEL DA ETERNIDADE.


Edivaldo Vieira Barros


Resumo: O objetivo do presente estudo tende a apontar como a obra platônica Timeu quer esclarecer a criação do universo com explicações cosmológicas e buscando a cima de tudo, elucidar tais problemas fora da mitologia. O que é pretendido aqui é explanar a organização do cosmos, que o Demiurgo, deus idealizado por Platão busca ordená-lo vendo a ideia do Uno/Bem. Com isso, ele contempla as Formas imutáveis e procura reproduzir na matéria que está desorganizada. Para tanto, este deus não é invejoso, mas um ser bom, que tem as melhores das intenções para com a sua criação. Deseja-se, ainda, aclarar como o tempo nasce na obra platônica e a que modelo ela segue. Busca-se compreender o que o autor quer nos falar com a ideia de tempo como imagem móvel da eternidade.

Palavras-chave: Cosmos; Tempo; Demiurgo.



Resumen: El objetivo de este estudio tiende a mostrar cómo el trabajo Timeo platónico aclarar si la creación del universo con las explicaciones cosmológicas y busca por encima de todo, para dilucidar este tipo de problemas de la mitología. Lo que se pretende aquí es explicar la organización del cosmos, el Demiurgo, Dios idealizada por Platón, búsqueda ordenar verle la idea de Uno / Bueno, ya que contempla las formas inmutables y el juego de la demanda en esta materia no organizada. Por lo tanto, este dios no es envidioso, pero al ser un bien, que tiene las mejores intenciones para su creación. Queremos aclarar también cómo llega el momento en el trabajo y el modelo platónico que le sigue. Tratamos de entender lo que el autor nos quiere decir con la idea del tiempo como una imagen móvil de la eternidad.

Palabras-clave: Cosmos; Tiempo; Demiurgo.



INTRODUÇÃO


O presente estudo tem a finalidade de expor as ideias sobre a temática abordada por Platão no diálogo Timeu, no qual o filósofo enfatiza a ideia de como nasce o mundo (cosmos) a partir das Formas perfeitas contempladas pelo Demiurgo. O referido estudo se reporta a obra supracitada e também alguns comentadores, como o Hildeberto Bitar que caracteriza o Timeu em duas partes onde o mesmo diz que a primeira se “desenvolve a maneira do prólogo, e se encerra a indicação das circunstâncias do diálogo e relato de Crítias...” (Timeu 17a – 27b) e a segunda “que mais extensa e importante”, que trata da conversação propriamente dita e principalmente a exposição dos temas abordados durante o restante da obra (Idem 27c – 92c).
Assim, para melhor abranger a ideia central da obra de Platão seguimos dos pressupostos: “Em que consiste o que sempre existiu e nunca teve princípio?¹ E em que consiste o que devém e nunca é?²” (Idem 27d) Partindo dos questionamentos como problemática o seguinte estudo tem como objetivo compreender a ordenação do cosmos feita pelo Demiurgo e em que momento nasce o tempo no entendimento de Platão.
Pretende-se mostrar que só existe tempo onde há o vir-a-ser corpóreo e por meio do movimento, nisso compreende-se que ele (tempo) só pode nascer neste mundo material, quando o artesão (Demiurgo) utiliza a matéria e o espaço para moldar aquilo que ele contempla a partir das Formas perfeitas e imutáveis, sendo essas Formas para Platão as primeiras e inteligíveis, entendendo que, embora esse universo do devir apresente formas quantificadas e matéria que formam o mundo sensível, assim como, o mundo foi ordenado pelo Demiurgo e como o tempo surgena criação platônica.




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¹ trata-se do mundo intelegível, a Forma perfeita, o Bem
² trata-se do mundo sensível, aquele que é tocável, tangível e que esta sujeito ao devir


A ORDENAÇÃO DO COSMOS E O TEMPO COMO IMAGEM MÓVEL DA ETERNIDADE.


1. A ordenação do Cosmos¹

A obra cosmológica é essencial em Platão; o filósofo descreve que o mundo sensível (por ser tocável e ter tido um começo e de certo ter uma causa) que habitamos, deriva do mundo inteligível. Pois ele “nasce nalgum momento e teve começo” (Timeu 28b). Para que ele se nascesse precisaria de um modelo, então fundamentalmente, o mundo terá de ser a imagem de alguma coisa. Portanto, Platão vai continuar a dizer que ele não é da mesma ordem que o seu modelo.
A Forma mais perfeita em Platão é círculo (esfera), onde o seu centro está à mesma distância da sua periferia. Com isso ele detecta que o semelhante é mais belo do que o dessemelhante. Ademais, o universo é deixado liso, ou melhor, desprovido de quaisquer partes.

De olhos não necessitava, pois do lado de fora nada ficou visível; nem de ouvidos, porque fora dele, também, nada havia para ser percebido. Do mesmo modo ar respirável não o envolvia, não necessitando ele, igualmente de nenhum órgão, ou fosse para receber alimentos, ou para expeli-los, depois de lhes haver absorvido o suco, pois nada entrava nele por nenhuma parte nem dele saía, visto nada haver além dele. (Timeu 33c)

Estando a alma do mundo no meio do cosmos e assim sendo refletida para suas fronteiras como diz Platão: “no centro colocou a alma, fazendo que se difundisse por todo o corpo e completasse seu envoltório” (Timeu 34b). Mais adiante, diz o texto que “formou o céu circular com movimento também circular” (Idem 34b), pois este é o Mesmo (é o que sempre existiu e nunca teve princípio) com seu círculo e o Outro (é o que devém e nunca é) que é a imitação do Ser primeiro. São partes da Alma do Mundo.
Partindo do ponto em “que consiste o que devém e nunca é?” (Idem 27d), é compreensível que o universo está sujeito a várias mudanças, pois ele veio do receptáculo material, e a partir da contemplação do Demiurgo é modelado o mundo e todos seus elementos sendo observadas as Formas perfeitas e imutáveis que estão no mundo das ideias, que, segundo Platão é o mundo mais nobre e perfeito. Deste modo, o Demiurgo quando ordena o universo, ele primeiro cria a alma do mundo que é viva e esta conhece a sua unidade e dessemelhança.
Platão expõe que o corpo do mundo é um assim como também o modelo é.  Ele observa os quatros elementos usado por Empédocles, e trata de explicar na sua obra como esses elementos são entendidos e colocados no universo. Tudo o que existe foi feito do que é corpóreo, visível e tangível e é, portanto, a matéria que o Demiurgo utiliza para fazer a imagem das Formas perfeitas. Mas é preciso fazer certas ligações entre os elementos utilizados para fazer o corpo do mundo.

Por ser visível, o universo é formado fogo (luz), posto que este elemento é o que permite a visibilidade; mas é também tangível, e toda tangibilidade só é possível por meio de terra. Esses dois elementos iniciais, porém, devem estar ligados , o que só será possível por meio de outro elemento – ou melhor, de dois outros [...] Por essa razão coloca o Demiurgo, entre o fogo e a terra, o ar e a água. (Hildeberto Bitar, p. 35, 2001)

Ele utiliza-se do fogo, que no dizer de Platão nada poderia existir sem o fogo, pois ele esta ligado a visão e ao sol, assim como também usou a terra para formar o corpo do mundo e também duas mediedades: ar e água.

2 . O tempo² como a imagem móvel da eternidade
.
A obra que Platão faz para elucidar o que é essa imagem móvel cunhada pelo artesão. Nesse momento pode-se compreender que começa existir o tempo. “Quando o pai percebeu vivo e em movimento o mundo que ele havia gerado à semelhança dos deuses eternos, regozijou-se, e na sua alegria determinou deixá-lo ainda mais parecido com seu modelo”. (Timeu37d). E segue no capítulo X a ideia que o filósofo diz a respeito do tempo como uma figura do que é eterno.

Então, pensou em compor uma imagem móvel da eternidade, e, ao mesmo tempo em que organizou o céu, fez da eternidade que perdura na unidade essa imagem eterna que se movimenta de acordo com o número, e a que chamamos tempo (grifo nosso). E como antes do nascimento do céu não havia nem dias nem noites, nem meses nem anos, foi durante aquele trabalho que ele cuidou do seu aparecimento. Todos eles são partes do tempo, e o que foi ou será, simples espécies criadas pelo tempo, que indevidamente ou por ignorância atribuímos à essência eterna.” (Timeu37d-e)

Essa imagem viva, que se movimenta de acordo com o número é o tempo, pois aqui é produzido o passado, o presente e o futuro.
O Demiurgo deseja tornar o mais semelhante possível a imagem com a Forma que ele vê e posteriormente projeta.
A narrativa prosseguecolocando como é regularizado o movimento do cosmos: que é chamado de tempo. “... quer se refira ao Outro quer ao Mesmo, é levado sem voz nem som para o que se move por si mesmo, inclina-se para o sensível e o círculo do Outro transmite diretamente sua mensagem a toda a alma, formam-se opiniões e crenças sólidas e verdadeiras.” (Idem 37b).
Segundo Bernard Piettre“nós nos baseamos no movimento dos astros”; tanto é, que o dia medimos com o movimento de rotação, o mês com o círculo da lua sobre a terra e o ano com o movimento de translação. Essa numeração do tempo, “do ano ser 365 dias e 6 horas, do dia ter 24 horas e da hora 60 minutos[...]” (PIETTRE, p. 18, 1997) diz ele que esse método era utilizado pelos babilônicos. No dizer de Aristóteles “o tempo é o número em movimento”.
Vejamos o que diz o texto do Timeu: “o tempo nasceu com o céu que é feito segundo o modelo perfeito, que é a natureza eterna”. Isso quer dizer o tempo nasce no transcorrer da sabedoria do ser divino que modela o que está no caos, e para tal nascimento vai surgir também “a lua e os outros cinco astros errantes ou planetas”; e eles surgem para definir e conservar o tempo. Portanto, o tempo nasce a partir desse processo. “Assim e por tal razão nasceram o dia e a noite, que completam a revolução do círculo único o mais inteligente; depois nasceu o mês, quando a lua perfaz seu círculo e atinge o sol e de seguida o ano, ao chegar o sol ao fim de sua revolução” (Timeu 39c). Desse modo, se o movimento dos astros parasse não existiria mais tempo no universo.

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¹  É um termo que designa o universo em seu conjunto, toda a estrutura universal em sua totalidade, desde o microcosmo ao macrocosmo. O cosmos é a totalidade de todas as coisas desde o universo ordenado, desde as estrelas, até as partículas subatômicas. O astrônomo Carl Sagandefine o termo cosmos como sendo "tudo o que já foi, tudo o que é e tudo que será". (a enciclopédia livre)
² é o primeiro dos padrões criados pelo demiurgo para ordenar o mundo





CONCLUSÃO

Pretendeu-se neste estudo explicar de forma muito abreviada, a ordenação do cosmos que se dá com a contemplação e a boa vontade do Demiurgo que, por ser um ente bom organiza a partir das Formas perfeitas e imutáveis a matéria que está no caos e ele com a sua arte consegue imitar o mundo ideal. Sendo assim, fica evidenciado que o mundo inteligível está ligado ao que Platão explica: que a eternidade sempre existe, portanto, se ela tivesse um começo não podia ser eterna, já que sabemos que o que esta para o devir é o que devém e nunca é.  Faz-se notar, portanto, que o universo está sempre no devir e assim, está sujeito a mudanças por ser tocável, tangível e sensível.
Desejou-se, ainda, mostrar quão é notável o aparecimento do tempo a partir do movimento no universo. Consequentimente, a imagem é viva e está move-se, desse modo, o Demiurgo faz do universo uma criatura viva e capaz de movimenta-se, nisso, o tempo é a imitação do que é eterno.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TIMEU / Platão; tradução de Carlos Alberto Nunes. – 3. ed. ver. Belém: EDUFPA, 2001.

SANTOS, José Gabriel Trindade. O tempo na narrativa platônica da Criação: o Timeu. Hypnos, São Paulo. n.18, p.42-55.1º sem.2007.

BITAR, Hildeberto. Introdução/Timeu. In PLATÃO.Timeu.Ed. 3ª.Belém, 1977: EDUSC 2001 p. 23-45.

PIETTRE, Bernard. Filosofia e Ciência do tempo. Tradução Maria Antonia Pires de Carvalho Figueredo – Bauru, SP. EDUSC, 1997

SANTOS, Luiz Gustavo Oliveira. Matéria do Jornal da Comunidade sobre Filosofia. Teociência. Disponível em: <https://sites.google.com/site/teociencia/web-desig/cosmos/platao1>. Acesso em 07 dez. 2012.


quarta-feira, 18 de abril de 2012

Resumo do Livro Segundo (a) Metafísica de Aristóteles

No segundo livro da Metafísica, Aristóteles introduz dizendo que “a pesquisa da verdade é difícil, sob outro é fácil” (p. 71). Coloca como prova a aprendizagem do homem sendo sempre impossível, apreende-la na totalidade, porém possível apreender algo a respeito dela. Coloca ele ainda a verdade como geral e particular, acrescenta os tipos de dificuldades sobre a causa, “da verdade não esteja nas coisas, mas em nós”(p.71). Põe ainda, que o sempre há impacto diante da realidade, nas palavras dele “é justo ser grato” até mesmo nas pessoas duvidosas, pois estas também contribuem para a verdade. Ele nos diz que “é justo chamar a filosofia de ciência da verdade” (p. 73). Temos a necessidade de conhecermos a verdade pela causa, sendo eternos as causas são verdadeiras mais que as outras, pois são causas das outras coisas.
Ele nos diz que existe um princípio primeiro e as causas são limitadas, ele expõe e explica as espécies de causas material (não deriva até o infinito), motora (sem que haja um termo desse processo, também não é possível), final (não é possível, pois algo é sempre em vista do outro) e o mesmo vale para a causa formal. O primeiro termo é a causa de tudo, sendo que o último de nada serve se não tem essência o primeiro, desta forma os intermediários (um ou muitos) não são indiferentes. Se existe um princípio no topo da série das causas, não dar para retroceder ao infinito. Entre o ser e o não-ser existe o devir, esse último é o vim a ser, o que esta mudando. As causas são necessariamente finitas tanto em série como em número, pois de outra maneira o conhecimento não seria possível e reinaria o caos da descrença e do relativismo.
Na terceira parte, são feitas algumas observações sobre a metodologia utilizada por Aristóteles na sua pesquisa e expõe que a fala é como estamos acostumados, pois fica mais fácil de aprender. Com tudo, coloca algumas outras experiências, os que não gostam de ouvir, os que não gostam de exemplos, os que exigem o testemunho dos poetas, os que querem tudo com rigor, outros que se incomodam com o rigor. Ele acrescenta que cada ciência tem seu próprio método.