quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


A ORDENAÇÃO DO COSMOS E O TEMPO COMO IMAGEM MÓVEL DA ETERNIDADE.


Edivaldo Vieira Barros


Resumo: O objetivo do presente estudo tende a apontar como a obra platônica Timeu quer esclarecer a criação do universo com explicações cosmológicas e buscando a cima de tudo, elucidar tais problemas fora da mitologia. O que é pretendido aqui é explanar a organização do cosmos, que o Demiurgo, deus idealizado por Platão busca ordená-lo vendo a ideia do Uno/Bem. Com isso, ele contempla as Formas imutáveis e procura reproduzir na matéria que está desorganizada. Para tanto, este deus não é invejoso, mas um ser bom, que tem as melhores das intenções para com a sua criação. Deseja-se, ainda, aclarar como o tempo nasce na obra platônica e a que modelo ela segue. Busca-se compreender o que o autor quer nos falar com a ideia de tempo como imagem móvel da eternidade.

Palavras-chave: Cosmos; Tempo; Demiurgo.



Resumen: El objetivo de este estudio tiende a mostrar cómo el trabajo Timeo platónico aclarar si la creación del universo con las explicaciones cosmológicas y busca por encima de todo, para dilucidar este tipo de problemas de la mitología. Lo que se pretende aquí es explicar la organización del cosmos, el Demiurgo, Dios idealizada por Platón, búsqueda ordenar verle la idea de Uno / Bueno, ya que contempla las formas inmutables y el juego de la demanda en esta materia no organizada. Por lo tanto, este dios no es envidioso, pero al ser un bien, que tiene las mejores intenciones para su creación. Queremos aclarar también cómo llega el momento en el trabajo y el modelo platónico que le sigue. Tratamos de entender lo que el autor nos quiere decir con la idea del tiempo como una imagen móvil de la eternidad.

Palabras-clave: Cosmos; Tiempo; Demiurgo.



INTRODUÇÃO


O presente estudo tem a finalidade de expor as ideias sobre a temática abordada por Platão no diálogo Timeu, no qual o filósofo enfatiza a ideia de como nasce o mundo (cosmos) a partir das Formas perfeitas contempladas pelo Demiurgo. O referido estudo se reporta a obra supracitada e também alguns comentadores, como o Hildeberto Bitar que caracteriza o Timeu em duas partes onde o mesmo diz que a primeira se “desenvolve a maneira do prólogo, e se encerra a indicação das circunstâncias do diálogo e relato de Crítias...” (Timeu 17a – 27b) e a segunda “que mais extensa e importante”, que trata da conversação propriamente dita e principalmente a exposição dos temas abordados durante o restante da obra (Idem 27c – 92c).
Assim, para melhor abranger a ideia central da obra de Platão seguimos dos pressupostos: “Em que consiste o que sempre existiu e nunca teve princípio?¹ E em que consiste o que devém e nunca é?²” (Idem 27d) Partindo dos questionamentos como problemática o seguinte estudo tem como objetivo compreender a ordenação do cosmos feita pelo Demiurgo e em que momento nasce o tempo no entendimento de Platão.
Pretende-se mostrar que só existe tempo onde há o vir-a-ser corpóreo e por meio do movimento, nisso compreende-se que ele (tempo) só pode nascer neste mundo material, quando o artesão (Demiurgo) utiliza a matéria e o espaço para moldar aquilo que ele contempla a partir das Formas perfeitas e imutáveis, sendo essas Formas para Platão as primeiras e inteligíveis, entendendo que, embora esse universo do devir apresente formas quantificadas e matéria que formam o mundo sensível, assim como, o mundo foi ordenado pelo Demiurgo e como o tempo surgena criação platônica.




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¹ trata-se do mundo intelegível, a Forma perfeita, o Bem
² trata-se do mundo sensível, aquele que é tocável, tangível e que esta sujeito ao devir


A ORDENAÇÃO DO COSMOS E O TEMPO COMO IMAGEM MÓVEL DA ETERNIDADE.


1. A ordenação do Cosmos¹

A obra cosmológica é essencial em Platão; o filósofo descreve que o mundo sensível (por ser tocável e ter tido um começo e de certo ter uma causa) que habitamos, deriva do mundo inteligível. Pois ele “nasce nalgum momento e teve começo” (Timeu 28b). Para que ele se nascesse precisaria de um modelo, então fundamentalmente, o mundo terá de ser a imagem de alguma coisa. Portanto, Platão vai continuar a dizer que ele não é da mesma ordem que o seu modelo.
A Forma mais perfeita em Platão é círculo (esfera), onde o seu centro está à mesma distância da sua periferia. Com isso ele detecta que o semelhante é mais belo do que o dessemelhante. Ademais, o universo é deixado liso, ou melhor, desprovido de quaisquer partes.

De olhos não necessitava, pois do lado de fora nada ficou visível; nem de ouvidos, porque fora dele, também, nada havia para ser percebido. Do mesmo modo ar respirável não o envolvia, não necessitando ele, igualmente de nenhum órgão, ou fosse para receber alimentos, ou para expeli-los, depois de lhes haver absorvido o suco, pois nada entrava nele por nenhuma parte nem dele saía, visto nada haver além dele. (Timeu 33c)

Estando a alma do mundo no meio do cosmos e assim sendo refletida para suas fronteiras como diz Platão: “no centro colocou a alma, fazendo que se difundisse por todo o corpo e completasse seu envoltório” (Timeu 34b). Mais adiante, diz o texto que “formou o céu circular com movimento também circular” (Idem 34b), pois este é o Mesmo (é o que sempre existiu e nunca teve princípio) com seu círculo e o Outro (é o que devém e nunca é) que é a imitação do Ser primeiro. São partes da Alma do Mundo.
Partindo do ponto em “que consiste o que devém e nunca é?” (Idem 27d), é compreensível que o universo está sujeito a várias mudanças, pois ele veio do receptáculo material, e a partir da contemplação do Demiurgo é modelado o mundo e todos seus elementos sendo observadas as Formas perfeitas e imutáveis que estão no mundo das ideias, que, segundo Platão é o mundo mais nobre e perfeito. Deste modo, o Demiurgo quando ordena o universo, ele primeiro cria a alma do mundo que é viva e esta conhece a sua unidade e dessemelhança.
Platão expõe que o corpo do mundo é um assim como também o modelo é.  Ele observa os quatros elementos usado por Empédocles, e trata de explicar na sua obra como esses elementos são entendidos e colocados no universo. Tudo o que existe foi feito do que é corpóreo, visível e tangível e é, portanto, a matéria que o Demiurgo utiliza para fazer a imagem das Formas perfeitas. Mas é preciso fazer certas ligações entre os elementos utilizados para fazer o corpo do mundo.

Por ser visível, o universo é formado fogo (luz), posto que este elemento é o que permite a visibilidade; mas é também tangível, e toda tangibilidade só é possível por meio de terra. Esses dois elementos iniciais, porém, devem estar ligados , o que só será possível por meio de outro elemento – ou melhor, de dois outros [...] Por essa razão coloca o Demiurgo, entre o fogo e a terra, o ar e a água. (Hildeberto Bitar, p. 35, 2001)

Ele utiliza-se do fogo, que no dizer de Platão nada poderia existir sem o fogo, pois ele esta ligado a visão e ao sol, assim como também usou a terra para formar o corpo do mundo e também duas mediedades: ar e água.

2 . O tempo² como a imagem móvel da eternidade
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A obra que Platão faz para elucidar o que é essa imagem móvel cunhada pelo artesão. Nesse momento pode-se compreender que começa existir o tempo. “Quando o pai percebeu vivo e em movimento o mundo que ele havia gerado à semelhança dos deuses eternos, regozijou-se, e na sua alegria determinou deixá-lo ainda mais parecido com seu modelo”. (Timeu37d). E segue no capítulo X a ideia que o filósofo diz a respeito do tempo como uma figura do que é eterno.

Então, pensou em compor uma imagem móvel da eternidade, e, ao mesmo tempo em que organizou o céu, fez da eternidade que perdura na unidade essa imagem eterna que se movimenta de acordo com o número, e a que chamamos tempo (grifo nosso). E como antes do nascimento do céu não havia nem dias nem noites, nem meses nem anos, foi durante aquele trabalho que ele cuidou do seu aparecimento. Todos eles são partes do tempo, e o que foi ou será, simples espécies criadas pelo tempo, que indevidamente ou por ignorância atribuímos à essência eterna.” (Timeu37d-e)

Essa imagem viva, que se movimenta de acordo com o número é o tempo, pois aqui é produzido o passado, o presente e o futuro.
O Demiurgo deseja tornar o mais semelhante possível a imagem com a Forma que ele vê e posteriormente projeta.
A narrativa prosseguecolocando como é regularizado o movimento do cosmos: que é chamado de tempo. “... quer se refira ao Outro quer ao Mesmo, é levado sem voz nem som para o que se move por si mesmo, inclina-se para o sensível e o círculo do Outro transmite diretamente sua mensagem a toda a alma, formam-se opiniões e crenças sólidas e verdadeiras.” (Idem 37b).
Segundo Bernard Piettre“nós nos baseamos no movimento dos astros”; tanto é, que o dia medimos com o movimento de rotação, o mês com o círculo da lua sobre a terra e o ano com o movimento de translação. Essa numeração do tempo, “do ano ser 365 dias e 6 horas, do dia ter 24 horas e da hora 60 minutos[...]” (PIETTRE, p. 18, 1997) diz ele que esse método era utilizado pelos babilônicos. No dizer de Aristóteles “o tempo é o número em movimento”.
Vejamos o que diz o texto do Timeu: “o tempo nasceu com o céu que é feito segundo o modelo perfeito, que é a natureza eterna”. Isso quer dizer o tempo nasce no transcorrer da sabedoria do ser divino que modela o que está no caos, e para tal nascimento vai surgir também “a lua e os outros cinco astros errantes ou planetas”; e eles surgem para definir e conservar o tempo. Portanto, o tempo nasce a partir desse processo. “Assim e por tal razão nasceram o dia e a noite, que completam a revolução do círculo único o mais inteligente; depois nasceu o mês, quando a lua perfaz seu círculo e atinge o sol e de seguida o ano, ao chegar o sol ao fim de sua revolução” (Timeu 39c). Desse modo, se o movimento dos astros parasse não existiria mais tempo no universo.

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¹  É um termo que designa o universo em seu conjunto, toda a estrutura universal em sua totalidade, desde o microcosmo ao macrocosmo. O cosmos é a totalidade de todas as coisas desde o universo ordenado, desde as estrelas, até as partículas subatômicas. O astrônomo Carl Sagandefine o termo cosmos como sendo "tudo o que já foi, tudo o que é e tudo que será". (a enciclopédia livre)
² é o primeiro dos padrões criados pelo demiurgo para ordenar o mundo





CONCLUSÃO

Pretendeu-se neste estudo explicar de forma muito abreviada, a ordenação do cosmos que se dá com a contemplação e a boa vontade do Demiurgo que, por ser um ente bom organiza a partir das Formas perfeitas e imutáveis a matéria que está no caos e ele com a sua arte consegue imitar o mundo ideal. Sendo assim, fica evidenciado que o mundo inteligível está ligado ao que Platão explica: que a eternidade sempre existe, portanto, se ela tivesse um começo não podia ser eterna, já que sabemos que o que esta para o devir é o que devém e nunca é.  Faz-se notar, portanto, que o universo está sempre no devir e assim, está sujeito a mudanças por ser tocável, tangível e sensível.
Desejou-se, ainda, mostrar quão é notável o aparecimento do tempo a partir do movimento no universo. Consequentimente, a imagem é viva e está move-se, desse modo, o Demiurgo faz do universo uma criatura viva e capaz de movimenta-se, nisso, o tempo é a imitação do que é eterno.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TIMEU / Platão; tradução de Carlos Alberto Nunes. – 3. ed. ver. Belém: EDUFPA, 2001.

SANTOS, José Gabriel Trindade. O tempo na narrativa platônica da Criação: o Timeu. Hypnos, São Paulo. n.18, p.42-55.1º sem.2007.

BITAR, Hildeberto. Introdução/Timeu. In PLATÃO.Timeu.Ed. 3ª.Belém, 1977: EDUSC 2001 p. 23-45.

PIETTRE, Bernard. Filosofia e Ciência do tempo. Tradução Maria Antonia Pires de Carvalho Figueredo – Bauru, SP. EDUSC, 1997

SANTOS, Luiz Gustavo Oliveira. Matéria do Jornal da Comunidade sobre Filosofia. Teociência. Disponível em: <https://sites.google.com/site/teociencia/web-desig/cosmos/platao1>. Acesso em 07 dez. 2012.


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